Agenda 2030 da ONU tem afinidade com o olhar do setor privado

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Agenda 2030 da ONU tem afinidade com o olhar do setor privado

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem produzido ao longo dos anos relatórios que apontam para os riscos que a humanidade corre no trato com o meio ambiente. Estudo recente aponta que até 2040 o aquecimento global deve provocar grande impacto na vida humana se nenhuma providência for tomada.

Antes disso, em 2016, a mesma ONU lançou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável onde lista 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (os chamados ODS) em diferentes áreas públicas, sendo que um dos mais importantes, já pactuado com 193 países, busca a erradicação da pobreza e da fome no mundo.

Socióloga e pós-graduada em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB), Anna Peliano faz coro à tese de que governos, empresas e sociedade civil organizada precisam se unir em torno do cumprimento das metas e declarou-se otimista.

“Eu vejo com muito otimismo a possibilidade das empresas e das fundações empresariais que investem na área social que analisem quais são os ODS para os quais eles podem contribuir Essas organizações atuam na área do combate à pobreza, combate à fome, da promoção de educação e saúde de qualidade que são objetivos que tem muita afinidade com os propósitos da Agenda 2030. Portanto, elas poderão sim dar uma importante contribuição se começarem reprogramar as suas agendas de acordo com o alcance dos ODS. . Fico muito entusiasmada quando vejo empresas e institutos se organizando para ajudar nesse desafio global de alcançar um desenvolvimento sustentável para o planeta”, afirma.

Com marcante passagem pela área técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), onde desenvolveu políticas públicas, especialmente na área de combate à fome e à pobreza, a pesquisadora apontou que o fato de as empresas pagarem impostos ou gerarem empregos está dentro do pacote das obrigações, mas percebe uma mudança de mentalidade importante na indústria alimentícia.

“Os problemas sociais brasileiros têm uma dimensão de tal ordem que não se pode esperar que o Estado Brasileiro vai solucioná-los isoladamente. É preciso que a sociedade brasileira se mobilize prestando serviços, cobrando políticas públicas. É claro que a contribuição do setor privado passa pelo pagamento de impostos, geração de empregos, cuidado com a qualidade dos seus produtos, e um comportamento ético em relação a todas as partes interessadas. Mas isso não basta. Isso é uma obrigação. Quando eu falo de dar sua contribuição eu acho que ele [setor privado] deve fazer mais. O empresário brasileiro começa a entender que, num País com esse nível de pobreza, eles precisam ir além. Não só investindo em projetos sociais, mas buscando novas soluções para o enfrentamento dos problemas sociais e trabalhando de forma articulada com políticas públicas. É dessa sinergia de esforços que se pode ampliar o alcance dos investimentos sociais privados. Na prática, Anna Peliano diz que as empresas, principalmente as de maior porte, podem dar o exemplo desde já ao incorporar os preceitos da Agenda 2030 e irradiar um movimento que contagie todas as cadeias produtivas.”

“Os princípios de sustentabilidade devem estar não só na agenda e na gestão dos negócios, mas também na agenda de atuação social e ambiental. São empresas que tem recursos, que podem investir, podem ajudar as comunidades e a fortalecer a sociedade para também cumprir a sua parte”, opina.

Visibilidade e combate à fome e à pobreza

A pesquisadora, que atualmente coordena na Comunitas, a pesquisa de Benchmarking do Investimento Social Corporativo – BISC admite, porém, que do ponto de vista da visibilidade as empresas investem pouco ou não tem sabido divulgar suas ações no campo social.

Ela lembrou que desde a redemocratização do País, o ingresso das empresas privadas no campo social passou a ser cobrado de forma crescente pela sociedade. No entanto, nos anos 1980 as ações eram muito pontuais, emergenciais e filantrópicas, e a sua divulgação era criticada porque poderia sugerir que os benefícios se destinavam para as próprias empresas, para ganhos de competitividade no mercado.

“Hoje eu entendo que a atuação das empresas vem em atendimento às demandas da sociedade e nesse sentido elas precisam ser transparentes, precisam divulgar. É claro, com o cuidado de que não se transforme numa ação de marketing. Tem que divulgar o que estão fazendo com muita consciência e com muita precisão. Eu acho que chega ser um dever. Mesmo porque: se a sociedade cobra, elas [empresas] têm devem atender e prestar contas. As empresas estão mais atuantes não porque são boazinhas, mas porque tem uma demanda e porque são pressionadas”, afirma.

Anna Peliano sinaliza que a fome e da pobreza no Brasil são problemas entrelaçados e que apesar dos avanços observados nos últimos anos, “não dá pra dizer que a pobreza no Brasil acabou. Em 25% dos domicílios no Brasil ainda não é garantida a segurança alimentar. Dependendo do corte na linha de pobreza, nós podemos afirmar que temos um contingente de 26 milhões de pobres, vivendo com renda mensal inferior a R$ 231,50. Isso representa 12,44% da população brasileira. Se fizemos um corte de linha de renda mais baixo, de menos de dois dólares ao dia, nós temos aí algo como 14 milhões de pobres, o que representa 7,23% da população”.

A pesquisadora menciona ainda que outros problemas nutricionais e saúde que apareceram nos últimos anos no Brasil e que estão relacionados à qualidade da alimentação e cita como exemplos a obesidade. “Com a urbanização, cresceu muito a alimentação fora de casa , de baixa qualidade e alto nível de processamento”, flagra.

Na regressiva para 2030

Faltando 12 anos para 2030, Anna Peliano refletiu que a agenda proposta pela ONU é complexa mas que em muitas áreas o País tem demonstrado avanços.

“Em algumas metas o Brasil já avançou muito. Por exemplo: no combate à pobreza. O Brasil já está discutindo metas nacionais e me parece que em muitas delas o país vai apresentar propostas mais ambiciosas do que aquelas estabelecidas no âmbito global. Na área social entre os nossos maiores desafios temos o acesso aos serviços de saneamento. Se na educação nós praticamente já garantimos o acesso, o desafio agora está na sua qualidade . O mesmo ocorre na área de saúde. Temos muito que avançar na qualidade dos serviços prestados à sociedade brasileira” .

A pesquisadora reconheceu que nem todas as metas da Agenda 2030 talvez sejam atingidas, mas destacou que o fato de o Brasil se aderir à Agenda 2030 e se comprometer com os seus ODS, isso já representa um avanço.

“Agora vamos ter acompanhar o que será feito no país. É importante o controle da sociedade, a prioridade política, o engajamento de todos e a tomada de consciência geral de que o mundo sustentável é essencial para as gerações futuras”, encerrou.

Confira o vídeo e veja o depoimento de Anna Peliano acerca da questão:

 

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