Faça sol ou chuva, frio ou calor, uma coisa é certa: a rotina de Elcio José Dzirza, 34, começa bem cedo. Para este pequeno agricultor nascido em Rio Azul, no Paraná, não há cidade que se compare à vida no campo.
“Desde pequeno a minha lida é aqui. Eu gosto do sossego de morar no campo; nasci aqui e nunca sai”, conta.
A 200 km de Curitiba e com cerca de 14 mil habitantes, Rio Azul é a cidade natal de muitas famílias que, assim como a de Elcio, vivem do que produzem. Integrante do Programa de Agricultura Familiar da Cargill (Selo Combustível Social), ele reduziu a lida nas lavouras de fumo para se dedicar ao cultivo de soja.
Ao lado da mulher, Elcio conta que há sete anos plantou o primeiro pé de soja. De lá para cá, sua principal conquista foi o conhecimento:
“Uma das vantagens de participar do programa foi entender mais sobre o uso de agrotóxico, pois antes a gente costumava usar em excesso. Com a informação adquirida, aprendemos que ele prejudica o meio ambiente e a saúde, por isso a importância de usar a dosagem correta.”
Na visão de Ricardo Cerveira, engenheiro agrônomo e diretor do Instituto Biosistêmico, um dos pontos altos deste modelo de produção é a qualidade diferenciada do produto final.
“O produto oriundo da agricultura familiar é mais artesanal, a maior parte do número de produtores orgânicos, por exemplo, é de agricultores familiares.“
A diversidade de alimentos gerados é também outra característica da agricultura familiar. Enquanto os grandes produtores normalmente ficam atrelados ao milho, à soja e à cana de açúcar, o agricultor familiar produz alface, rúcula, soja para tofu, entre outras variedades. “Se não existisse o agricultor familiar, não teríamos inhame para a mesa, couve de bruxelas ou até mesmo o feijão”, afirma Ricardo.
Participação e valor de mercado da agricultura familiar
Responsável por 75% dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, a agricultura familiar abrange cerca de 5 milhões de famílias, que produzem a maioria dos alimentos consumidos no país – como mandioca (83%), feijão (70%) e leite (58%).
Esse modelo de produção está em 84% dos estabelecimentos agropecuários e responde por aproximadamente 38% de participação no valor bruto da produção do meio rural, segundo o último levantamento agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados revelam a participação efetiva da agricultura familiar no resultado da produção agrícola do Brasil, que tem batido recordes nos últimos anos. Em 2012, o Valor Bruto da Produção) das lavouras e da pecuária no país alcançou R$ 438 bilhões. Estudo elaborado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (AGE/Mapa) indica que neste ano o VPB deve ter alta de 1,8%, superando R$ 445,75 bilhões, novo recorde.
Visibilidade internacional
A relevância conquistada fez a Organização das Nações Unidas (ONU) declarar 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. O objetivo do marco foi dar o devido reconhecimento à importância da agricultura familiar na produção sustentável de alimentos, na segurança alimentar e na erradicação da pobreza.
Para Ricardo e Elcio, os holofotes vieram em boa hora já que o pequeno produtor fica, muitas vezes, esquecido.
“Os programas de financiamento vêm melhorando a situação, mas ainda temos o desafio de universalizar o acesso ao crédito e, em seguida, garantir que haja a desvinculação deste agricultor com as políticas públicas”, explica Cerveira.
Um caminho que perpassa a independência do produtor – movimento que Elcio resume num desejo simples: o de ver o caminho para a venda simplificado.
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