“Empresas brasileiras podem influenciar positivamente o mercado global de alimentos”, diz Beatriz Carneiro

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“Empresas brasileiras podem influenciar positivamente o mercado global de alimentos”, diz Beatriz Carneiro

Lançados há dois anos pelo Pacto Global da ONU, os Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA) orientam as empresas do setor sobre como conduzir seus negócios de forma sustentável. Em entrevista ao Alimentação em Foco, a Secretária Executiva da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Beatriz Carneiro, destaca o papel das empresas brasileiras como influenciadoras do mercado global para adoção de uma agenda positiva na produção de alimentos.

O Pacto Global da ONU é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa voluntária do mundo, reunindo mais de 13 mil signatários, em mais de 160 países, com o objetivo de alinhar os negócios a dez princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. No Brasil, foi criada em 2003 a Rede Brasil do Pacto Global, que promove ações colaborativas lideradas pelo setor privado. Um dos trabalhos da Rede Brasileira é a Cartilha dos PEAA, que auxilia as empresas a colocarem em prática os seis princípios estabelecidos para o setor.

Alimentação em Foco: O que são os Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA)?

Beatriz Carneiro: São princípios que foram acordados globalmente entre os participantes do Pacto Global e que visam a sustentabilidade do setor de alimentos e da agricultura, a partir das três vertentes da sustentabilidade: a ambiental, a social e a econômica. São seis princípios, que mais recentemente, com o lançamento agenda 2030 da ONU, foram reforçados no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número dois: “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.” Então, muito do que já estava dito nesses princípios, foi incluído nesse ODS.

Alimentação em Foco: Aqui no Brasil, qual desses seis princípios seria o mais urgente a ser seguido pelas empresas do setor?

Beatriz Carneiro: Esses seis princípios, e agora também os ODS, foram acordados mundialmente como sendo os norteadores da atuação responsável das empresas, de modo que não há como priorizar um princípio que fala, por exemplo, só do meio ambiente, em detrimento de um princípio que fale de direitos humanos, ou da viabilidade econômica na atividade em toda a cadeia de valor. Algumas empresas, por exemplo, já têm processos mais avançados em relação ao meio ambiente, e não tão avançados para a questão social. Então, para essas empresas, talvez seja necessário focar mais nesse princípio. Enfim, é uma avaliação que tem que ser feita individualmente. De toda forma, o objetivo seria você atender aos seis princípios, contribuindo para o alcance do ODS número dois.

Alimentação em Foco: Como que você avalia o comprometimento das empresas brasileiras hoje? Como está a adesão ao Pacto e aos princípios?

Beatriz Carneiro: A Rede Brasil do Pacto Global é a primeira rede local a criar um documento trazendo boas práticas sobre esses princípios: a Cartilha dos PEAA. Fizemos isso porque as empresas que compõem nosso grupo temático já têm boas práticas consolidadas. O Brasil é um grande produtor de alimentos no mundo e acho que as empresas brasileiras têm como influenciar positivamente o mercado global.

Alimentação em Foco: Pensando na totalidade das empresas brasileiras, podemos dizer que boa parte do empresariado brasileiro da área de alimentação e agricultura está comprometida com a produção sustentável?

Beatriz Carneiro: Temos grandes empresas com importantes iniciativas, que acabam sendo replicadas por toda cadeia de valor. Então, esses princípios estão sendo disseminados também para os pequenos agricultores e empresários. Agora, é claro que sempre precisa de mais divulgação, porque quanto mais sustentáveis nós formos ao longo da cadeia, melhor para o país, melhor para o setor e melhor para o planeta.

Alimentação em Foco: Com relação à indústria de alimentos processados, qual é o grande desafio para cumprir os PEAA?

Beatriz Carneiro: Acho que a grande questão do setor é que ele tem a função de contribuir para a segurança alimentar, mas também garantindo a sustentabilidade do seu negócio. Portanto, se o agricultor não usa a água de forma responsável, e não influencia as políticas públicas e os demais atores para que haja um uso responsável da água e toda a bacia onde ele atua, no futuro ele vai acabar ficando sem água e não vai poder dar continuidade ao seu negócio. É uma questão de sustentabilidade do próprio negócio. As empresas aqui no grupo fazem um intercâmbio de conhecimento e de suas boas práticas. Justamente é uma oportunidade para que elas conversem entre si, e vejam que suas dificuldades muitas vezes já foram solucionadas por uma outra empresa do mesmo setor. É um ambiente bastante aberto e democrático.

Alimentação em Foco: Como que está o envolvimento do setor público nessa questão?

Beatriz Carneiro: O PEAA número cinco fala especificamente sobre a boa governança e, portanto, aborda essa questão do relacionamento com o Poder Público. O setor de alimentos, principalmente, é um setor bastante regulado. Essas empresas já dialogam com o setor público, de forma a estar afinado com os órgãos regulatórios e também de forma a influenciar positivamente essa agenda. Acho que as empresas que estão observando os PEAAs podem dar o exemplo e influenciar toda a cadeia, do campo ao consumidor. As empresas têm a possibilidade de influenciar os seus fornecedores, os seus colaboradores e também os mercados onde elas atuam.

Alimentação em Foco: Qual você acredita que será o legado dos PEAA e da Rede Brasil nesse sentido?

Beatriz Carneiro: Eu acho que o grande desafio, na verdade, é a gente contribuir para a segurança alimentar. O Brasil é um grande exportador de alimentos,ou seja, a gente não contribui apenas para a segurança alimentar dos brasileiros, mas do mundo. O Brasil tem hoje um diferencial competitivo na produção de alimentos devido as condições favoráveis do solo, do clima e da disponibilidade hídrica. Agora,se essa produção não for feita de forma sustentável, podemos acabar perdendo esse diferencial competitivo. O legado dos PEAAs será contribuir para disseminar a importância da sustentabilidade. Com a cartilha, que é bastante auto-aplicável, as empresas podem ver como fazer. Essa ferramenta, portanto, é também um legado bastante interessante que o grupo deixa para o público em geral.

 

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