Escassez de água e os desafios da agricultura

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Escassez de água e os desafios da agricultura

Na pauta do dia, a crise da água pode deixar de ser apenas mais um assunto na fila da padaria para se transformar em fator determinante do que os brasileiros poderão continuar levando à mesa. Embora exista um pouco de alarmismo envolvendo o assunto, há um problema real com o qual os agricultores já estão tendo de lidar, em maior ou menor escala. Júlio da Silva Rocha Júnior, Presidente da FAES (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo), aponta que a atual crise hídrica pode afetar a segurança alimentar do país. “O impacto da estiagem na agricultura deve ser sentido principalmente pelo consumidor com o aumento de preços”, analisa o especialista, que aponta as atitudes de racionalização como “obrigações inadiáveis para o momento.”.

São muitas as razões que podem justificar a escassez de água e seu impacto sobre a produção e distribuição de alimentos. Dentre todas elas, a de ligação mais imediata com o tema passa por uma análise simples do crescimento populacional. Em 1950, eram 2,5 bilhões de pessoas no mundo, enquanto a previsão da ONU (Organização Mundial das Nações Unidas) é que, até 2050, esse número chegue aos 9,3 bilhões. Isso significa que, nas próximas três décadas e meia, a demanda global por água deve aumentar 55%. E, embora essa seja uma estimativa para o futuro, o aumento da demanda é um movimento em curso.

Ao considerar o fato de que a produção agropecuária é totalmente dependente da água, não é difícil entender os motivos que levam muitos especialistas a alertarem para os riscos de uma possível crise no abastecimento. “A noção de que temos água em abundância deve ser modificada. Apesar de termos muita água, há uma demanda crescente em todos os setores que, aliada às variações climáticas (e talvez às mudanças climáticas), traz e poderá trazer outras crises como essa”, aponta o especialista da FAES.

Para Luís Henrique Bassoi, Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, a possibilidade de redução da safra agrícola 2014-2015 é real, porém ainda é preciso esperar pelo final da estação chuvosa, que normalmente ocorre em março, para então verificar quais as culturas que sofrerão perdas e qual a magnitude do impacto.

O desafio de mudar

Enquanto os dados da safra continuam em aberto, Bassoi considera que a atual crise hídrica será superada e sugere que a situação pode gerar mudanças positivas no setor. “A melhoria da eficiência do uso da água na agricultura deverá ser intensificada, por meio de maior transferência de tecnologia e conhecimento, bem como pela promoção de um aumento no número de produtores capacitados quanto ao uso eficiente da água na agricultura”, afirma. Nesse sentido, Rocha Júnior também acredita que os impactos negativos podem ser reduzidos e os aprendizados se tornarem positivos. “A adoção das práticas da Agricultura de Precisão na irrigação pode ser um caminho, por exemplo, substituindo equipamentos tradicionais pelos modernos, de consumo de água e dispêndio de energia bem menores.”

Com o objetivo de prestar informações sobre a crise hídrica ao setor e aproveitar o momento para ampliar o debate sobre o uso da água na agricultura, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) lançou o “Água na Agricultura” – um hotsite que reúne trabalhos realizados pela Embrapa, do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), da ANA (Agência Nacional das Águas) e da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).

Segundo Bassoi, há vários mecanismos utilizados por outros países em relação ao uso da água na agricultura que podem ser utilizados no Brasil. O hotsite aponta alguns caminhos nesse sentido, no entanto dentre as iniciativas internacionais o pesquisador destaca duas que ainda não são feitas de modo exemplar em solo brasileiro: o planejamento do uso da água e a gestão integrada pelos seus diversos setores usuários. “Precisamos nos aprimorar nesse aspecto, pois o uso racional da água é de responsabilidade coletiva”, afirma.

DESTAQUE

O setor agrícola responde por 72% do consumo de água no Brasil.
Fonte: Programa Mundial de Levantamento sobre a Água, ONU.

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