Fortificação de alimentos ajuda a combater a “fome oculta”

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Fortificação de alimentos ajuda a combater a “fome oculta”

A “fome oculta” é definida como uma carência não explícita de um ou mais micronutrientes no organismo, que provoca alterações fisiológicas mínimas, não perceptíveis no exame clínico de rotina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada quatro pessoas no mundo sofre de “fome oculta”, consequência da falta ou do baixo consumo, sobretudo, de micronutrientes (vitaminas e minerais).

Ainda segundo a OMS, a fome oculta é responsável por debilitar mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Segundo os últimos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 48% das crianças no mundo com menos de cinco anos de idade apresentam anemia (deficiência de ferro), e 30% possuem deficiência em vitamina A.

No Brasil, os números também são altos, tendo 55% das crianças com menos de cinco anos de idade apresentando deficiência de ferro e 13% com deficiência em vitamina A.

“Este grave problema de saúde pública vem sendo enfrentado com a fortificação dos alimentos”, explicou o médico pediatra Mauro Fisberg, durante o 3º Fórum Nacional de Nutrição, realizado pelo Lide Saúde.

A fortificação, enriquecimento ou simplesmente adição, é um processo no qual são acrescentados aos alimentos um ou mais nutrientes, contidos ou não naturalmente no mesmo, com o objetivo de reforçar seu valor nutritivo e prevenir ou corrigir eventuais deficiências nutricionais apresentadas pela população. Essa adição segue parâmetros legais que dão segurança ao processo e ao consumidor.

Além do ferro, os micronutrientes mais comumente acrescentados aos alimentos são o ácido fólico, a vitamina D, o cálcio, a vitamina A, o zinco e o ômega 3. Farinhas, pães, bolos, sucos, iogurtes e leites são alguns dos alimentos enriquecidos com essas substâncias.

No Brasil, por exemplo, toda a farinha de trigo e de milho produzida tem que, obrigatoriamente, ser fortificada com ácido fólico e ferro desde 2004. Essa legislação, inclusive, passa atualmente por uma revisão, por meio de consulta pública.

“O ferro ajuda a reduzir os índices de anemia na população e o ácido fólico é essencial na dieta das gestantes para reduzir os casos de má formação do tubo neural nos bebês. A deficiência desse nutriente pode levar a problemas de formação do feto ou até mesmo à anencefalia”, explica o pediatra.

Tipos de fortificação que ajudam a combater a fome oculta

A OMS reconhece quatro categorias de fortificação. Confira abaixo cada uma de suas especificações:

Fortificação universal

A fortificação universal, ou em massa, que é aquela que ocorre de forma obrigatória e consiste na adição de micronutrientes a alimentos de consumo pela maioria da população; é o caso das farinhas de trigo e milho no Brasil.

Fortificação em mercado aberto

A fortificação em mercado aberto são as iniciativas das indústrias de alimentos, com o objetivo de agregar maior valor nutricional aos seus produtos. Como exemplo, podemos citar leite, pão, margarina, sucos, néctar, iogurtes, massas, biscoitos, embutidos, queijos e qualquer outro alimento processado enriquecido com vitaminas, ácidos graxos essenciais, minerais e outros compostos bioativos.

Fortificação focalizada ou direcionada

Já a fortificação focalizada ou direcionada é aquela que visa o consumo dos alimentos enriquecidos por grupos populacionais de elevado risco de deficiência. No Chile, por exemplo, o Ministério da Saúde desenvolve um programa voltado a gestantes e lactentes, que recebem um leite enriquecido com ácidos graxos e ômega 3. Entre outros benefícios, o leite previne malformações nos bebês.

Fortificação domiciliar comunitária

Por fim, existe a fortificação domiciliar comunitária, que tem sido aplicada em países em desenvolvimento. Neste tipo de fortificação, geralmente, são adicionados suplementos às refeições. No Brasil, uma experiência neste sentido foi desenvolvida entre 2012 e 2013, com crianças entre seis e 15 meses de idade, em quatro cidades brasileiras: Rio Branco, Olinda, Goiânia e Porto Alegre. Elas receberam sachês de micronutrientes que deveriam ser adicionados às suas refeições. Ao final do estudo, a prevalência de anemia nas crianças participantes do estudo foi 38% menor do que no grupo que não recebeu a suplementação.

Biofortificação

Existe ainda um outro tipo de fortificação dos alimentos, que começa antes mesmo do cultivo das plantas, por meio do melhoramento genético das sementes. É a biofortificação, que permite que os micronutrientes sejam adicionados às sementes dos alimentos no momento do plantio. Segundo a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Marília Nutti, “as sementes biofortificadas podem ser utilizadas para o consumo direto ou na produção de alimentos enriquecidos”.

Há mais de dez anos a Embrapa desenvolve o projeto BioFORT, que trabalha com foco no melhoramento genético convencional de alimentos básicos na dieta da população como arroz, feijão, feijão caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo.

“A essência do projeto é enriquecer alimentos que já fazem parte da dieta da população, para que esta possa ter acesso a produtos mais nutritivos e que não exijam mudanças de seus hábitos de consumo”, explica a pesquisadora da Embrapa, Marília Nutti.

Segundo ela, “o projeto tem como objetivo diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar através do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente”. O processo de biofortificação é feito com o cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivas.

Veja mais informações sobre o BioFORT.

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