Segundo o professor doutor Valdely Kinupp, estima-se que no mundo hoje existam mais de 30 mil espécies vegetais. Porém, 60% das calorias ingeridas pela população mundial vem de apenas quatro alimentos: arroz, trigo, milho e batata. Intrigado pela falta de diversidade no prato, ele começou a estudar o tema e criou o termo Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) para se referir a uma classe de plantas conhecidas como selvagens e muitas vezes tidas como mato ou ervas daninhas. “São plantas que não estão no dia a dia e nem no prato das pessoas, embora tenham valor nutricional muitas vezes maior do que as plantas convencionais”, diz o professor do Instituto Federal do Amazonas.
Bertalha, serralha, capuchinha, vinagreira, vitória régia, jacaratiá, hibiscus, papoulas são algumas das plantas estudadas pelo professor que as catalogou num livro, com o objetivo de disseminar o conhecimento e facilitar o acesso da população a essas plantas. Intitulado Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANc) no Brasil, a obra foi escrita em parceria com o botânico Harri Lorenzi, e apresenta plantas nativas e exóticas espontâneas e cultivadas no Brasil, consumidas no passado, em alguma região do país e do mundo. Cada planta é apresentada em duas páginas: na primeira – suas características morfológicas para facilitar a identificação botânica, informações sobre seu uso geral e culinário com referências bibliográficas e ilustradas com fotos; na segunda – duas ou três fotos legendadas das partes da planta utilizadas para o consumo, seguidas de três receitas feitas com a planta e com imagens dos respectivos pratos.
“Nós vamos aproximadamente 52 vezes por ano ao supermercado ou feiras para comprar sempre as mesmas coisas. De acordo a FAO, consumimos entre 100 e 150 espécies vegetais, num universo de mais de 30 mil. Com essa limitação nas escolhas, abrimos mão de uma diversidade de nutrientes e fibras importantes, e deixamos de gerar renda com a biodiversidade brasileira”, acredita o professor.
Nova visão: Nos últimos anos, no entanto, o professor enxerga que as pessoas e o próprio mercado vem se abrindo para experimentar e valorizar as PANCs. “Estão surgindo cursos para orientar a população sobre o que pode e o que não pode ser consumido, estão surgindo publicações, guias de identificação. É um processo lento, porque as pessoas estão muito distantes da natureza. Mas está começando”, acredita.
A recomendação do professor é para que não sejam consumidas plantas desconhecidas. Ou seja, o ideal é mesmo buscar informações a respeito das PANCs antes de iniciar o seu consumo. Por isso a importância dos livros e guias com fotos, que permitem a identificação das espécies. “99% das plantas não oferecem riscos, mas o ideal é sempre consultar alguma referência”, salienta. Além de livros e guias, o professor dá como dica as universidades e organizações como Embrapa e Secretarias de Agricultura, que normalmente têm em seus quadros profissionais e materiais que podem orientar a respeito das PANCs.
Para quem está em São Paulo e tem interesse em aprender mais sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais, Viveiro Sabor de Fazenda realizará um curso sobre PANCs no mês de abril. Clique aqui para mais informações.