Projeto Aquaponia produz alimentos unindo tecnologia, peixes e plantas

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Projeto Aquaponia produz alimentos unindo tecnologia, peixes e plantas

Iniciativa é uma das contempladas no Edital 2019 da Fundação Cargill e tem por objetivo ampliar a produção de alimentos a partir da união entre tecnologia, peixes e plantas

A vida cotidiana, cada vez mais acelerada nos grandes centros urbanos, muitas vezes tem como uma de suas consequências a urbanização desenfreada nas grandes cidades.

Essa ocupação desordenada acaba mudando a paisagem das grandes metrópoles que se veem em constante transformação. Assim, as áreas verdes acabam relegadas a pequenos territórios ou a parques municipais e estaduais.

Nesse movimento da vida moderna, no qual matas e florestas são afastadas das grandes cidades, a agricultura acaba ganhando vulto e importância no interior do Brasil.

Tanto é assim que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra de grãos no período 2018-2019 atingirá 234,1 milhões de toneladas, um crescimento de 2,8% em relação ao período anterior. Será a segunda maior safra da história.

Porém, nem toda a riqueza se concentra no campo e já se percebem movimentos na contramão da regra de que a cidade consome e o campo produz.

Já é possível perceber contempladas em grandes cidades como São Paulo, por exemplo, iniciativas como hortas coletivas e jardins verticais e horizontais suspensos em prédios de diferentes bairros da metrópole.

O que é aquaponia?

Nesse contexto, a técnica de aquaponia surge como alternativa para o cultivo de plantas e proteína animal. Estruturalmente, a técnica consiste na integração da criação de peixes com o cultivo de plantas sem uso de solo. Neste sistema, o resíduos gerados pelos peixes através do processo de alimentação é filtrado em dois estágios, no primeiro, de forma mecânica, retém-se as partículas sólidas maiores, as quais são aproveitadas para reutilização posterior como biofertilizante, por exemplo, e na segunda, de forma bioquímica, as partículas menores são transformadas por colônias de bactérias e plantas como nutriente. Este processo cíclico e de circulação fechada mantém o equilíbrio no meio aquático para os peixes e nutre bactérias e plantas de forma constante. Além de economizar mais de 90% da água em comparação com a agricultura convencional, tem produtividade duas vezes maior e pode ser praticado em qualquer local.

“Nós temos a transformação da amônia em nitratos, através do trabalho das bactérias, sendo o nutriente mais utilizado pelas plantas. Essa água volta ao tanque com níveis reduzidos de amônia tóxica, o que seria prejudicial aos peixes. Por conta dessa simbiose entre planta, bactéria e peixe, nós temos um sistema funcional ‘à la’ natureza. Se você mexer na quantidade de peixes ou de plantas, você altera esse balanço”, explica o técnico da Fazenda Aquaponia Urbana, Wagner Annunciato.

O projeto desenvolvido pela Associação Reciclázaro e que foi contemplada no Edital 2019 da Fundação Cargill

Com 45 anos de atuação, a Fundação Cargill tem entre seus propósitos a promoção e a disseminação de conhecimento para uma alimentação saudável, segura, sustentável e acessível.

Com essas premissas, vem apoiando organizações não governamentais e estimulando ações e jovens inovadores no apoio a projetos que promovam a transformação social e a geração de valor na cadeia da alimentação. A Fundação Cargill também está a frente de projetos próprios focados na capacitação de pequenos agricultores.

A parceria

No edital de 2019, a Fundação Cargill e a Associação Reciclázaro através da Fazenda de Aquaponia Urbana renovaram a parceria.

“A aquaponia é algo que agora está começando a aparecer mais no Brasil. No edital de 2018 nós contemplamos a parte de inovação do projeto, que é a verticalização da estrutura e a parte de aeroponia, que ainda depende de acabamento”, relembra o técnico Wagner Annunciato.

Ele relata que foi feita uma primeira tentativa de produção, mas que houve dificuldade em algumas estruturas. As torres que interligam o sistema, por exemplo, foram soldadas porque não existe no Brasil equipamento adequado.

“Tivemos que inovar até nisso, pela construção. A gente levou algum tempo pesquisando para saber qual a melhor distância vertical ou horizontal. E acabamos optando por fazer um sistema onde nós vamos ter uma planta 100% madura. Nós vamos trabalhar nesse caso com plantas menores”.

As plantas menores, também conhecidas como baby leafs, tem um ciclo de 20 dias na estufa em função da redução do risco de pragas, como a ação de insetos, por exemplo. Assim, quanto maior o tempo na estufa, maiores as chances de uma planta ser afetada por parasitas, vírus, bactérias nocivas e etc.

“Para facilitar o manejo e aumentar a produtividade por metro quadrado, nós saímos agregamos à produção de 600 plantas no sistema anterior, horizontal, para quase duas mil, somando a estrutura vertical você colhe a planta mais rapidamente e não dá muito tempo pra essa água recirculante juntar o lodo do peixe. No sistema de aquaponia, mesmo que a gente tenha um sistema de filtragem mecânica para remoção de sólidos maiores, nós permitimos que as partículas menores circulem para que sejam convertidas biologicamente, servindo de nutrientes para bactérias e plantas.”, explica Wagner.

Metas para 2019

Para este ano, o objetivo traçado pela Associação Reciclázaro para a Fazenda de Aquaponia Urbana no edital da Fundação Cargill é permitir a ampliação dessas estruturas, além da captação de energia solar e aproveitamento da água da chuva,

Atualmente, o projeto possui backup de energia com quatro painéis – dois deles ativos e os demais ainda inativos. “O que nós estamos buscando para 2019 é a auto sustentabilidade do sistema porque nós temos um custo muito alto de energia”, afirma Wagner.

A Fazenda Aquaponia Urbana vai adquirir uma estrutura nova que integra a rede elétrica convencional e a energia solar. Nesse caso, o sistema inteligente garante que num dia de sol a pino, por exemplo, a bateria do sistema elétrico convencional fique desligada e seja poupada.

A pesquisa também será privilegiada em 2019. Pela primeira vez, neste projeto, serão avaliadas em laboratório a qualidade das plantas e peixes em um ciclo de crescimento. O objetivo é atrair mestrandos e doutorandos para pesquisar os dados. Também está prevista a criação de um site onde os dados estarão disponíveis em tempo real.

Outra prioridade neste novo ciclo será a automação dos equipamentos. “Antes, quando havia um vazamento, nós chegávamos aqui e o caos estava formado. Com a automação, o sistema vai nos avisar quando algo estranho estiver em curso, seja um vazamento ou a correção dos níveis de nutrientes e qualidade da água. A ração também será automaticamente inserida no sistema”, prevê o técnico.

Também está prevista a utilização de um sistema de captação de água a ser utilizada na aquaponia. No caso da captação de água da chuva, por exemplo, essa água passará a ser submetida à uma filtragem especial com ozônio.

As hortas do entorno da fazenda também serão impactadas pelo edital 2019. Toda água utilizada no sistema será reaproveitada, incluindo os biofertilizantes gerados no sistema de aquaponia. A ideia é que também esse processo passe a ser automatizado, impactando a distribuição da água para as hortas mantidas ao redor da fazenda.

“Será uma irrigação automatizada”, resume Wagner. “Nós vamos medir a umidade do solo. Se uma área do terreno ao lado tem o solo mais seco do que outra que tem mais sombra, o equipamento vai mandar água para essa região mais seca”.

Serão comprados também equipamentos eletrônicos que vão medir através de sondas o que está acontecendo em termos de nutrientes. “Vamos fazer análises periodicamente. Desta forma teremos base científica para melhor ajustar o sistema, que agora passa por ampliação, melhorando os parâmetros da água e qualidade na produção.

E, com os testes frequentes em laboratório, nós vamos saber a quantidade de nutrientes, evitando as deficiências no crescimento das plantas. A partir daí, ajustamos a automação para o segundo semestre”, prevê Wagner Annunciato, técnico responsável.

Visitas

Todos os produtos como gengibre, temperos e hortaliças, além dos próprios peixes, são consumidos por 30 pessoas na própria fazenda, que está localizada à beira da Marginal Tietê, em São Paulo.

O excedente é distribuído para instituições que cuidam de idosos, por exemplo. A meta é vender parte desse excedente para manter a instituição e pagar custos de energia, entre outros.

O espaço também recebe visitas do público. Somente em 2018, foram 2,5 mil pessoas passando pelo local que vem não apenas das universidades, mas também escolas públicas e comunidades próximas.

“Tem muitas escolas que nos procuram para saber como criar uma horta nos seus espaços”, revela Natália Kaori, instrutora técnica e bióloga da Reciclázaro. “A gente começa a trabalhar esse assunto aqui e depois desenvolve o projeto dentro da escola. Os alunos que nós recebemos tem desde três anos, até alunos do ensino médio e universitários”, finaliza.

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